segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

2008 em poucas lições - Parte I

1 de janeiro. Terça-feira. O apartamento está uma bagunça. Entre manchas de vinho, uísque e cachaça, o grude da cerveja e migalhas tornam o chão algo desgostoso de se pisar. A cabeça parece um bambolê. No quarto ao lado, dorme uma menina com um humor que não inspira que a acordemos. No que resta do lugar, alguns corpos humanos se amontoam enquanto aguardam seus espíritos que, provavelmente não estão por ali.

O telefone toca na sala. Querem saber se alguém encontrou um relógio. A cabeça parece um bambolê. Alguém me pergunta o que é um bambolê. Eu tento me lembrar do que se trata, mas parece difícil. É então que eu me lembro. Tinha um violão. Tinham muitas pessoas. Tinha uma menina. Quem era aquela menina? Ah, sim, a prima da Renata. A Renatinha! Que saudade da Renatinha! Muito bom ela ter estado aqui ontem. Mas qual era o nome da prima dela?

Joana. Não. Talita. Talvez. Marina. Puta que o pariu, eu não lembro o nome da mulher. A gente se beijou? Não, acho que não. Lembrei. Além do violão, tinha uma percussão também. Eram sambas que estavam cantando. Sandra. Sei lá. Rolou uma música do Tom Jobim. Foi nessa hora que a gente se beijou. Acho que era Talita. Talita. A gente não se beijou.

Um corpo se levanta e acorda a menina do quarto ao lado. É quando ouvem-se gritos pelo recinto. De repente, outros corpos vão se levantando, mas a impressão geral é que os espíritos continuam longe. Os gritos são dissipados pelo sono. A menina e o tal corpo voltam a dormir. Dois caras decidem procurar seus espíritos, optando por fazer isto em casa. Uma outra pessoa liga o computador procurando mensagens de ano novo.

Meu celular toca. A cabeça parece um bambolê. Alguém quer saber de um celular. Eu desligo o meu. Tenho fome e procuro alguma sobra. O nome dela era Talita. O sono me corrompe. É hora de voltar pra cama.

2 comentários:

Ciléa da Matta disse...

Acho um pecado você esconder o seu blog.Adorei os seus textos. Já coloqquei o seu blog na lista dos meus indicados. Portanto, se "descobrirem" você eu assumo a responsabilidade (ou não). Rs,rs,rs...

Bjus,

André D'Abô disse...

ao que parece, existem afinidades entre o final das festas de fim de ano e um campo de batalhas depois da guerra. estranhamente temos a mania de mensurar as coisas (as que duram) em anos. disso resulta que a cada ano todas as coisas medidas em anos têm que conhecer seu apocalipse para acordar com uma tremenda ressaca no dia seguinte... um grande abraço, meu amigo, e que em primeiro de janeiro de 2009 a cabeça não pareça um bambolê.