sábado, 7 de novembro de 2009

Sim, eu fui do Comitê Mirim do PDT

Pouca gente fora do meio político sabe disso. Aliás, poucos fora do meio político e da minha família. Aliás, poucos fora do meio político, da minha família e dos amigos de infância e adolescência. OK, já tem gente suficiente sabendo disso. Ainda assim, vou falar um pouco do assunto.

Afinal de contas, trata-se de uma parte da minha vida que, quando eu menos percebi, começou a gerar uma repercussão que eu não estava acostumado. É esquisito. Mas é verdade.

Sempre me considerei uma pessoa reservada. Sei que muitos discordam (fazer o quê?), mas eu sou tímido pra cacete mesmo. Muito tímido. E reservado. Mas já que perguntaram tanto como é que eu vim parar aqui, e como hoje rolou assembléia estadual da juventude do PDT, decidi falar um pouco (muito, na verdade) sobre isso.

Em 1989, eu tinha 7 anos de idade e morava em Governador Valadares, Minas Gerais. Meus pais, daquela classe média politizada mas não militante, estavam empolgadíssimos com a retomada das eleições diretas. Minha mãe votaria para presidente pela primeira vez em sua vida. Eu achava aquilo tudo o máximo.

O voto no Leonel Brizola era um acordo entre ambos. Vivia-se o auge do brizolismo no Rio de Janeiro, onde meus pais viviam antes de se mudar para Minas. Lembro-me bem de uma cena: nós três caminhando pelo Centro quando nos deparamos com uma banca vendendo um monte de brindes do Brizola. Corri na direção dela e eu quis de tudo. Eu achava aquilo tudo o máximo.

Corte no tempo. Em 1992, já estava morando em Niterói, na casa do Pé Pequeno. Brizola, que não tinha se elegido presidente, era de novo governador do estado. Política pra mim era isso: informações dispersas que eu guardava e achava interessante. Minha tia Jussara, sempre que nos visitava, deixava claro que a elite do país não queria saber do Brizola. Eu achava isso uma grande injustiça.

Naquele ano, no entanto, algo muito importante estava para acontecer. Chegava perto das eleições e eu começava a ouvir alguns amigos do bairro comentando sobre um tal de comitê. Os pais desses amigos demonstravam alguma desconfiança daquilo tudo, mas incentivavam. Alguém chegou a me dizer: "ah, André, vai lá você também".

Num dia desses, fui convocado para uma reunião. Do alto do meus 10 anos de idade, tive a certeza de que se tratava de assunto importantíssimo. Fui para o tal encontro, quando as pessoas começavam a discutir como seria a organização daquele comitê. Quem liderava o processo era um garoto de 15 anos, que morava na casa que servia de sede do grupo. Seu nome era Felipe.

Discutimos juntos quem seria o presidente do comitê e o Felipe foi o escolhido. Não sei se era nepotismo, mas o seu irmão ficou como vice-presidente. Como secretária foi eleita uma menina, acho que foi a Maria Fernanda. De repente, eu me lembrava de 89. E eu achava aquilo tudo o máximo.

Discutimos quem iríamos apoiar pra vereador e tinham 3 candidatos: o Adyr, a Satiê e o Norival. O Norival era o único que morava no Pé Pequeno e, segundo ele, o comitê tinha que apoiar um candidato único e um candidato do bairro. Sei que teve uma votação, o Adyr foi o mais votado, mas o negócio não deu muito certo, pois as meninas faziam questão de apoiar a Satiê. No final das contas, o comitê decidiu que seria aberto a todos os candidatos. Mas ninguém quis fazer a campanha do Norival.

O comitê era pra mim uma diversão só. Passei a distribuir panfletos na rua, colocar jornais nas casas dos vizinhos, discutir com as pessoas sobre o assunto. Em geral, as pessoas achavam bonitinho. Outras ficavam estupefatas com esses políticos corruptos explorando as crianças. Eu não estava nem aí, só queria continuar.

Acho que eu era o mais novo do grupo. Quer dizer, tinha o Dudu também, mas ele tinha 4 anos e aí não contava. Minha família apoiava aquilo. Lembro de alguém questionando minha mãe por ela me deixar sair andando por aí com esses meninos. Um absurdo. Dona Cecília sempre desabafava:

- O André é assim mesmo. Além do mais, é melhor ele se divertir com uma coisa útil do que ficar por aí fazendo coisa inútil.

Era o meu passe-livre. Teve um fim-de-semana que as crianças do Comitê Mirim do Pé Pequeno fizeram uma viagem a Macuco para ajudar outras crianças de lá a organizar um comitê também. Eram primos do Felipe, pra variar. E apoiavam o candidato a prefeito do PDT.

Depois daquela eleição, tomei gosto. No ano seguinte, pensei em fazer parte do grêmio da escola, mas não tive coragem. Em 94, no entanto, lá estava eu de novo todo interessado no comitê mirim. Naquele ano, acho que de mirim mesmo só tinha eu e minha sobrinha Lívia, um ano mais nova. Mas em compensação era o ano em que eu finalmente faria campanha pro Brizola pra presidente. Minha mãe continuou cheia de orgulho, mas o meu pai já não achava isso tão legal: decepcionado com o governo dele, decidiu votar no Fernando Henrique.

Em 1996, eleições municipais, e eu também deixava de ser mirim. O Felipe já tinha 19 anos, era da juventude do PDT. As outras ex-crianças já não estavam nem aí pra política. Eu ainda estava. Eu, Lívia, Joãozinho, Pedrinho e algumas outras crianças que faziam o comitê ainda ser considerado mirim. Foi o último ano em que isso aconteceu.

No ano seguinte, tomei coragem e procurei a turma do grêmio pra me envolver. Nessa época eu estudava no CEFET. A turma do grêmio não quis nada comigo, mas eu fiquei na minha. Foi só em 98 que entrei mesmo no movimento estudantil, como oposição ao novo grêmio. Naquele ano, ajudei a organizar a Juventude Declare Guerra e também me filiei ao PDT. A partir daí, vocês já conhecem a história.

2 comentários:

André D'Abô disse...

eis que nasce um PDTista...
Abraço.

Marcela Carvalho disse...

Gostei da história!