domingo, 22 de novembro de 2009

Tempos e contratempos (II)

A imagem de Genevéve me deixava atordoado. Eu não entendi por que, mas ao olhar para aquela dama portando a cigarrilha, alheia a tudo, acabei também alheio. Acabei intrinsecamente concentrado no seu ato de fumar. Cada trago. Cada fumaça. Eu não sabia por quê, mas sabia que o fim daquilo não seria proveitoso.

A essa altura, o Sr. Schermondt já voltara a consciência e chamou por Genevéve. Foi o suficiente para que minha consciência também se restaurasse. O velho cansado entregou-lhe o bilhete com a reserva do hotel e aconselhou sua filha a descansar. Ele seria encaminhado para uma casa de saúde, mas certamente a encontraria depois.

O que eu não esperava é que, após a partida de Genevéve, o Sr. Schermondt me puxasse pelos braços para dizer "É seu dever tomar conta da minha filha. O que acontecer com ela será responsabilidade sua."

Aquela assertiva imediatamente me calou. Eu não conhecia aquele homem. Não conhecia aquela moça. Estava, no entanto, encantado com ambos, cada qual por uma razão diferente. De tal forma que não tive como dizer não. Em verdade, não disse nada. Foi o velho me conferir aquela ordem para que o enfermeiro me entregasse um cartão de visitas com seus dados e me desejasse bom trabalho.

Algo estava errado ali. Quanto mais o tempo passava, mais confuso tudo parecia e menos eu sabia. Naquele momento eu tinha duas coisas: um cartão de visitas do enfermeiro Stoiltzer e o endereço do Hotel Excelsior. Genevéve estava já vários passos à minha frente e eu precisava alcançá-la. Confesso que alcançá-la era pra mim muito mais importante que entender o que estava acontecendo.

Um comentário:

André D'Abô disse...

cara, formidável!!!
muito bom... vejo um caminho literário por aí. adorei...